Muita gente tem dúvida sobre a área de Design de Interiores, como formação, cursos, mercado de trabalho, pré-requisitos entre outras questões. Este artigo em forma de questionário, baseado em perguntas e respostas, foi elaborado para tentar esclarecer as principais questões.
- O que é exatamente Design de Interiores?
O termo “Design de Interiores” foi oficializado no final da década de 1990, quando o Ministério da Educação e Cultura (MEC) lançou os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico – Área de Design –, trabalho que hoje é adotado em todo o território nacional.
- Até essa época, a área era conhecida como “Decoração”, “Decoração de Interiores” ou simplesmente “Design”.
Nos anos 1970, o mercado ainda era dominado por profissionais do sexo masculino, arquitetos, designers de móveis e autodidatas. Esse profissional possuía grande conhecimento sobre arte, estética, tecido, mobiliário, antiquário, revestimentos, distribuição de peças e obras de arte, cortinas, tapeçaria, aplicação de cor entre outras atribuições.
Porém, ele quase não fazia interferência na Arquitetura dos Ambientes, como troca de piso e bancadas que eram atribuições exclusivas do arquiteto. A sua tarefa principal era decorar o ambiente obedecendo a arquitetura existente.
- Nesta época, contratar um profissional de decoração era privilégio de poucos.
Na década de 1980, prosperaram os cursos livres de Decoração de Interiores. Na virada do século, surgiram cursos de diversos níveis em quase todos os estados brasileiros. Em 1999, o MEC reimplantou o curso de Nível Técnico em Design de Interiores, com a colaboração da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD) e das principais escolas de design do país, entre elas, a Associação Brasileira de Arte (Abra), que ajudaram a formatar as bases curriculares.
- De acordo com levantamento coordenado pelo arquiteto Jéthero Cardoso, que é membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Designers de Interiores (ABD), no ano de 2019 haviam mais de 182 cursos espalhados por todo o país, sendo 15 bacharelados, 77 tecnólogos e 90 técnicos de nível médio, sem falarmos na grande quantidade de cursos complementares livres. Esse aumento de atividades é uma tendência?
Hoje, o designer de interiores tem uma abrangência maior do que o decorador tinha no passado, pois desenvolve e executa projetos voltados para áreas internas de residências, comércio, indústrias, embarcações, veículos entre outros, com elaboração de plantas, elevações, perspectivas de apresentação ao cliente e também especificações de produtos, orçamentos, contratação de profissionais e empresas para a execução dos trabalhos sob sua supervisão, gerência de obras entre outras atividades. É uma das áreas que mais se desenvolveram nos últimos tempos e tem grande perspectiva de crescimento. Isso se deve a alguns fatores importantes: com a ascensão da classe média, a decoração se tornou mais acessível na área residencial. As pessoas perceberam que contratar um profissional para desenvolver o projeto e acompanhar a decoração acaba saindo mais barato e com menos dor de cabeça.
Na área comercial, a exigência do público consumidor fez com que os empresários mudassem sua visão quanto aos valores agregados ao ponto comercial. Em 2008, o MEC desenvolveu e implantou o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio e, assim, definiu carga horária mínima para os cursos constantes do catálogo, bem como um breve descrito dos conteúdos de cada curso e possibilidades de temas a serem abordados e de atuação dos profissionais formados. Assim, os cursos constantes do catálogo passaram a ser organizados por eixos tecnológicos, sendo que o curso passou a denominar-se Curso Técnico em Design de Interiores – Eixo Tecnológico: Produção Cultural e Design.
- Qual a diferença entre design e designer?
Design é a área e designer é o profissional que atua na área. Portanto, é errado falar “eu sou design de interiores” ou “eu trabalho com designer de interiores”.
- O que faz um (a) designer de interiores?
Esse profissional planeja e organiza os espaços, escolhendo e combinando os diversos elementos de um ambiente. Estabelece relações estéticas e funcionais em relação ao que se pretende produzir, harmoniza em um determinado espaço, móveis, objetos e acessórios, como cortinas e tapetes, procurando conciliar conforto, praticidade e beleza. Escolhe as cores, materiais, acabamentos e iluminação, utilizando tudo de acordo com o ambiente e adequando o projeto às necessidades, ao gosto e à disponibilidade financeira do cliente.
Além disso, administra o projeto de decoração, estabelece cronogramas, fixa prazos, define orçamentos e coordena o trabalho de pedreiros, marceneiros, gesseiros, pintores, eletricistas e outros profissionais. Pode projetar ambientes residenciais, comerciais ou espaços em locais públicos. Esse profissional costuma trabalhar como autônomo montando seu próprio escritório, mas pode atuar também em escritórios de Arquitetura, empresas especializadas em decoração e design de interiores ou, ainda, como consultor em lojas de móveis.
- Quais as disciplinas necessárias para a formação do (a) designer?
Existe um currículo básico de competências e habilidades exigido pelo MEC, para a formação do designer de interiores, sendo que cada escola deve usar pelo menos 80% desse currículo e completar os 20% com conteúdos que achar conveniente. Essas competências e habilidades se dividem em prática (projeto) e teoria, sendo que os principais conteúdos indispensáveis para a formação em Design de Interiores são: Desenho Livre, Desenho Técnico, Leitura e Interpretação de Projetos, Desenho Arquitetônico, Concepção de Projeto de Interiores, Projeto Executivo, Especificações, Teoria da Cor, Perspectiva Artística, Perspectiva Isométrica, História da Arte, História do Mobiliário, Teoria da Decoração, Memorial Descritivo, Metodologia de Pesquisa, Materiais e Revestimentos, Computação Gráfica, Técnicas Ilustrativas, Comunicação Visual, Gestão de Projetos, Projeto de Marcenaria, Iluminação, Instalações Prediais, Normas da Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) e Restrições, Projetos Comerciais e Ecologia e Meio Ambiente
- Quais os campos de atuação de um (a) designer de interiores?
Depois de formado, esse profissional pode atuar no planejamento e desenvolvimento de projetos residenciais; lojas; hotéis; clínicas; estandes; prestar assessoria na escolha de móveis e objetos de arte; fazer editoriais sobre o assunto para blogs, revistas e jornais; montar seu próprio escritório ou trabalhar em escritórios de Arquitetura; se especializar em fotografia de interiores; desenvolver maquetes eletrônicas etc., dependendo da sua especialização.
- Quanto ganha um (a) profissional dessa área?
Como esse profissional ganha por projeto, é difícil estabelecer um ganho fixo mensal. Como em toda profissão, um profissional experiente e conceituado, que tem uma boa clientela, ganha razoavelmente bem, enquanto que um recém-formado precisa galgar um patamar mais confortável. Mas, trata-se de uma profissão em ascensão, tanto na área residencial quanto comercial. Por isso, as perspectivas são boas.
- Quais opções de cursos existem no mercado?
Existem cursos de nível técnico, tecnólogo e de graduação, que visam a preparação do profissional para atuar no mercado de trabalho.
- Qual é a diferença entre um curso técnico, tecnólogo e de graduação?
O curso de nível técnico tem no mínimo 800 horas, podendo demorar de um a dois anos e tem o objetivo de preparar o aluno para o mercado de trabalho, de forma rápida e objetiva, capacitando-o ao exercício da profissão. O tecnólogo é um curso de graduação escalonada, que deve ter no mínimo 1.600 horas, duração em média de dois anos e tem como objetivos oferecer conhecimentos técnicos e científicos necessários para a formação de profissionais para atender campos específicos do mercado de trabalho. Basicamente, os mesmos objetivos do curso técnico, com a diferença de ter o dobro da carga horária e, consequentemente, um custo mais elevado, se cursado numa boa faculdade.
Além disso, muitas vezes, o aluno precisa estudar mais dois anos para se especializar. O aluno tem a possibilidade de avançar nos estudos, completar a graduação e candidatar-se a cargos públicos que exigem nível superior. Quanto ao curso de graduação completa, este deve ter pelo menos 2.400 horas, duração média de quatro anos e é indispensável para formações mais completas, cuja carga horária do tecnólogo seria insuficiente para abordar todos os conteúdos necessários.
- O fato de não saber desenhar atrapalha o aprendizado?
Não, isso não é um empecilho, principalmente, se a escola for especializada neste conteúdo e tiver professores capacitados para ensinar desenho. A grande maioria dos alunos que faz Design de Interiores não possui nenhuma experiência anterior com desenho e saem daqui excelentes desenhistas.
- Dá para fazer o projeto no computador? Que softwares são usados?
Sim, hoje a grande maioria dos projetos são desenvolvidos em programas de computador, como o AutoCad, Sketchup, Revit, Vector Works, Active 3D, 3D Max entre outros. Inicialmente, você deve dominar bem o desenho em duas dimensões (2D). Depois, partir para os softwares em 3D, para desenvolver as maquetes eletrônicas. Em qualquer caso, uma boa base de desenho livre e desenho técnico na prancheta são imprescindíveis.
- É preciso ser bom em Matemática para fazer este curso?
Não, mas é importante que você tenha um bom raciocínio lógico e consiga fazer as operações básicas para lidar com medidas, escalas e especificações.
- Existe o reconhecimento da profissão?
Sim. Veja uma parte da Lei Federal nº 13.369, sancionada pelo ex-presidente Michel Temer em 12 de dezembro de 2016:
Art. 1º: É reconhecida, em todo o território nacional, a profissão de designer de interiores e ambientes, observados os preceitos desta Lei.
Art. 2º: Designer de interiores e ambientes é o profissional que planeja e projeta espaços internos, visando ao conforto, à estética, à saúde e à segurança dos usuários, respeitadas as atribuições privativas de outras profissões regulamentadas em lei.
- Qual é a autonomia do designer de interiores?
O reconhecimento da profissão é muito recente. Por isso, não há ainda normas que determinem qual é a autonomia desse profissional. É certo que ele tem autonomia para desenvolver os itens constantes na Lei (veja a lei completa). Entretanto, independentemente da sua formação, o designer de interiores não pode “assinar” um projeto arquitetônico nem promover reformas estruturais. Essas atribuições são exclusivas de arquitetos e engenheiros. Ele pode, no entanto, efetuar troca de pisos, revestimentos, planejar bancadas, forros de gesso, iluminação, fazer alterações nas partes hidráulicas e sanitárias, sempre com a contratação de profissionais especializados.
- Depois de formado, posso abrir meu próprio escritório?
Sim. Para isso, é preciso que, além de dominar bem o desenvolvimento de projetos, você deve aprimorar as questões administrativas e ser empreendedor.
- Onde o designer que está começando consegue trabalho/clientes?
Em muitos casos, se você faz uma boa escola e se destaca, é possível que já comece a ter seus contatos e realizar pequenos projetos antes mesmo de terminar o seu curso. Mas, como em toda profissão, é preciso batalhar, participar de concursos, frequentar mostras de design, lojas e empresas, fazer contatos, ter um site bem apresentável e fazer um trabalho impecável, com ética, transparência e profissionalismo, pois, o próximo cliente sempre depende do anterior.
- Qual é a melhor idade para começar este curso?
Não existe idade limite para começar. Em geral, as escolas exigem idade mínima a partir de 16 anos, com o Ensino Médio em andamento ou concluído.
- Já passei dos 40 anos. Será que ainda consigo acompanhar?
Sem dúvida! A grande maioria dos alunos que faz este curso está na faixa dos 25 a 45 anos e nunca tiveram nenhum contato com a área ou experiência com desenho. Muitos têm outra profissão, mas querem mudar de vida, buscando uma profissão mais compatível com as suas aspirações. Por isso, se você se identifica com a área, não tenha medo e corra atrás do seu sonho.
Boa Sorte!
Prof. Dr. Frederico Augusto Nunes
Coordenador do Curso de Design de Interiores da UniAteneu
Doutor em Planejamento UrbanoFonte: Blog do Tidi
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