Acompanhado da mulher, a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, e a filha e deputada federal Clarissa Garotinho, o ex-governador entrou na ambulância gritando para que não o levassem e pedindo respeito, "porque era um homem enfartado".
- Me solta, me solta. Eu sou um enfartado. Vocês me respeitem - gritou com a voz bem rouca.
Rosinha também protestou, gritando:
- Meu marido não é ladrão. Deixa eu ir com ele. Eu quero ir com ele - protestou, ao lado da filha que também gritava para não levarem o pai para Bangu.
Vários funcionários foram para a porta do hospital e comemoraram a ida de Garotinho para Bangu, durante a saída da ambulância.
A temporada de Garotinho no Souza Aguiar irritou a Polícia Federal. A Secretaria municipal de Saúde informou hoje que, durante um exame de esforço, Garotinho relatou “dor intensa” no peito, o que pode indicar obstrução nas artérias. Os médicos, então, agendaram para a segunda-feira um cateterismo para investigar se há mesmo a interrupção. O hospital afirma que seguiu o “protocolo da Sociedade Brasileira de Cardiologia”.
O exame foi marcado para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, no Humaitá. A atitude, sem prévia comunicação às autoridades, irritou o delegado responsável pela investigação, Paulo Cassiano.
— A atitude do Souza Aguiar está sob suspeita para nós. Estamos tentando ver uma maneira de fazer a transferência. Foram marcados exames em outro estabelecimento hospitalar, mas isso não pode ser feito sem autorização do juízo, porque ele é um preso e está escoltado pela Polícia Federal — disse o delegado, antes da decisão da Justiça.
Procurada para comentar as críticas, a Secretaria de Saúde não respondeu.
Por ironia, foi Sérgio Cabral mesmo quem inaugurou a unidade de Bangu 8, em 2008. Por lá, já passaram o empreiteiro Fernando Cavendish, ex-amigo do peemedebista e hoje em prisão domiciliar, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o banqueiro André Esteves. Em Bangu 8, estão ex-diretores da Eletronuclear presos na Lava-Jato.
Da passarela da Avenida Brasil, pedestres aguardam a passagem do comboio com Cabral preso - Reprodução de TV
No caminho até a penitenciária, manifestantes se amontoaram nas passarelas na Avenida Brasil e gritavam palavras de ordem enquanto passava o comboio com Cabral. Na porta do presídio, também houve manifestação, assim como na porta da Polícia Fdederal, onde os manifestantes usavam guardanapos na cabeça, lembrando o episódio de um jantar de Cabral com empreiteiros em Paris.
Garotinho também foi encaminhado para o complexo prisional de Bangu após ter alta do hospital municipal Souza Aguiar, no Centro. O blog de Garotinho continua sendo atualizado mesmo depois de sua prisão. Hoje, uma postagem comemorou a prisão de Cabral.
Com o título “Cabral é preso por corrupção de R$ 224 milhões, bem diferente de Garotinho, acusado por dar Cheque Cidadão aos mais humildes”, o texto diz que “a hora de Sérgio Cabral chegou”.
BANHO DE SOL E VISITAS
Em um ofício enviado hoje à força-tarefa da Lava-Jato, o secretário estadual de Administração Penitenciária, Erir Ribeiro, afirma que o sistema prisional do estado está em condições de receber e dar total segurança a Cabral. Em nota, a secretaria informou que todos os internos “são tratados de forma igualitária, com direito a banho de sol, refeições e visitas após o cadastramento”.
Sérgio Cabral chega ao Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu - Reprodução de TV / Agência O Globo
O cardápio em Bangu 8 é composto por arroz ou macarrão, feijão, farinha, carne branca ou vermelha, legumes, salada, sobremesa e refresco. No desjejum, são servidos pão com manteiga e café com leite. O lanche é pão com manteiga ou bolo. Os presos nas duas unidades de Bangu 8, a masculina e a feminina, têm que usar uniforme próprio do sistema penitenciário do Rio.
Bangu 8 foi inaugurado quando os últimos presos da Penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira, no antigo Complexo Penitenciário Frei Caneca, no Estácio, foram transferidos para lá. Bangu 8 herdou o nome dessa penitenciária, que tinha sido construída em 1976 como anexo da Penitenciária Milton Dias Moreira, e era destinada a presos políticos oriundos da Ilha Grande.
Antes de Bangu, outros complexos penitenciários ficaram em evidência por abrigar políticos e empresários envolvidos em esquemas de corrupção. Na Papuda, em Brasília, ficaram os presos do mensalão. A unidade virou tema de marchinha de carnaval. Com a Lava-Jato, parte dos presos foi levada para a Superintendência da PF em Curitiba e, depois, para o Complexo Médico-Penal, em Pinhais.
Fonte: O Globo.