O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu cerca de R$ 8 milhões em propina do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, alvo da Operação Lava Jato, sendo que parte desse dinheiro foi repassado em espécie. A informação está na edição online da revista IstoÉ desta sexta-feira (11).
O modelo suspeito de entrega do dinheiro consta de um dos 300 anexos da delação premiada de executivos e funcionários da empreiteira, considerado o mais importante até agora, e foi confirmado pelo dono e ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht.
O dono da empreiteira informou que a maior parte dos repasses foi feita quando Lula já tinha deixado o Palácio do Planalto, sobretudo entre os anos de 2012 e 2013. Os investigadores da Lava Jato explicaram que Lula recebeu a propina em dinheiro vivo por meio do que chamam "método clássico" da prática corrupta.
A revista destaca que essa estratégia é "uma maneira de evitar registros de entrada, para quem recebe, e de saída, para quem paga, de dinheiro ilegal". A publicação questiona "se os repasses representavam meras contrapartidas a “palestras”, como a defesa do ex-presidente costuma repetir como ladainha em procissão, e se havia lastro e sustentação legal, por que os pagamentos em dinheiro vivo?"
Os pagamentos a Lula eram sigilosos dentro da própria Odebrecht, uma vez que a prisão de Marcelo Odebrecht, em junho de 2015, provocou esquema interno de emergência chamado de Operação Panamá — "uma varredura nos computadores, identificar os arquivos mais sensíveis e enviá-los para a filial da empresa no país caribenho".
Segundo a IstoÉ, "o objetivo não era outro, senão desaparecer com digitais e quaisquer informações capazes de comprovar transferências de recursos financeiros da Odebrecht ao ex-presidente Lula. Àquela altura, a empreiteira ainda resistia a entregar o petista, topo da hierarquia do esquema do Petrolão. Mudou de planos premida pelo instinto de sobrevivência".
Não foi só Marcelo Odebrecht que confirmou a propina a Lula. De acordo com a revista, o ex-presidente também é citado pelo dono da empreiteira e pai de Marcelo, Emílio Odebrecht; Alexandrino Alencar, ex-executivo da empresa; e o diretor de América Latina e Angola, Luiz Antônio Mameri.
A IstoÉ informa ainda que, dentro do pacote de depoimentos dos funcionários da Odebrecht, há uma troca de mensagens eletrônicas entre Mameri e Marcelo Odebrecht. Nessa conversa, diz a revista, "fica clara a participação de Lula para a aprovação de projetos da empreiteira no BNDES".
Em seu depoimento, o diretor confirmou as mensagens e disse que as influências de Lula e do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, hoje preso, foram decisivas para a aprovação de projetos definidos exatamente como foram concebidos nas salas da Odebrecht, sem que fossem submetidos a nenhum tipo de checagem. Mameri citou obras em Angola e Cuba.
Lula é réu em três ações criminais que tramitam na Justiça Federal. Em julho de 2016, Lula passou a ser acusado de obstruir as investigações da Lava Jato, após decisão da 10ª Vara Federal de Brasília (DF). Em setembro, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), decidiu tornar Lula réu de novo por causa de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex de Guarujá (SP).
Por fim, em outubro, Lula virou réu pela terceira vez nas mãos de Moro, por tráfico de influência no BNDES, envolvendo a Odebrecht inclusive.
Delações premiadas
No começo de novembro, a força-tarefa da Lava Jato começou a validar os depoimentos que vão se transformar em delações premiadas envolvendo a Odebrecht. Ao todo, são cerca de 80 pessoas aptas a falar — 50 delatores e 32 colaboradores lenientes da empreiteira.
A IstoÉ informa que a Odebrecht deverá admitir o pagamento de R$ 7 bilhões no Brasil e no exterior. O principal delator é o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht, que decidiu falar depois que foi condenado a 19 anos e quatro meses de cadeia pelo juiz Sérgio Moro, em decorrência de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Os depoimentos dos funcionários da Odebrecht deverão respingar ainda em Dilma Rousseff, integrantes do governo do presidente Michel Temer, cem parlamentares e 20 governadores e ex-governadores do País, sobretudo do PT e PMDB.
Além da investigação sobre seu quadro de funcionários, a Odebrecht deverá selar um acordo de leniência com a CGU (Controladoria-Geral da União) e pagar uma multa recorde de R$ 6 bilhões — até hoje, a maior do mundo foi paga pela Siemens em 2008, quando a alemã desembolsou R$ 1,8 bilhão. Se esse acordo sair, a empreiteira poderá voltar a executar obras públicas do governo federal.
Fonte: R7