O olhar superficial sobre a capital do Brasil nos remete ao pior dos adjetivos. Uma cidade erguida do ponto de vista da engenharia e arquitetura, planejada para ser perfeita, acabou não sendo. Foi planejada também para espantar a corrupção dos seus poderes, corredores e gabinetes. Não deu certo. A ideia geral era criar uma geração de políticos pensando o Brasil, ou seja menos Brasília e mais Brasil. Não aconteceu. Pior, produzir uma geração de servidores públicos probos. Foi um fracasso.
Todos os dias, o presidente Bolsonaro que faz política no Rio de Janeiro e que há 31 anos trabalha em Brasília, tendo sido por 28 anos deputado federal e a dois anos e oito meses ocupa a presidência da República, reclama da Câmara Federal, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro diz, reclama, proclama que não governa, é impedido pelos outros poderes e até mesmo pelos servidores públicos.
O presidente Jair Bolsonaro que foi colocado na presidência da República pelo eleitor que não suportava mais as denúncias de corrupção descobertas pela também corrupta Operação Lava Jato, não conseguiu governar por não ter um plano de governo. Preferiu construir um exército de internautas para desabafar seus impropérios contra a casta do poder público. O Brasil vive um triste momento de vazio de poder. Parece estarmos navegando corrente sobressaltada com grandes ondas.
Além da pauta diária sobre volta do voto impresso, golpe militar, compra de medicamentos e vacinas acima do preço, mansões adquiriras pelos filhos do presidente, CPI da COVID-19, as nulidades das condenações do Lula, o impeachment de Bolsonaro e de ministros do STF, assistimos ao início da campanha eleitoral. O 7 de setembro, data em que se comemora a Independência do Brasil, virou pauta para defesas de teses absurdas, como retorno do retorno dos militares ao poder, fechamento do Congresso Nacional, do STF, nova constituinte. Tudo pode ser debatido, mas a Constituição precisar estar sobre a mesa. É preciso lembrar sempre que o país tem um guia, uma norma, uma lei que todos devem respeitar: a Constituição.
Os militares estão ocupando milhares de cargos no governo Bolsonaro. O presidente, que é militar e foi para a reserva remunerada com a patente de capitão, foi eleito vereador e sete vezes deputado federal, defendendo a morte de traficantes, assaltantes e qualquer um da sociedade que comete crimes. Bolsonaro também defende abertamente intervenção militar. É a pauta política dele. Está na sua raiz política. Como os civis, os militares também gostam de cargos, dinheiro e de ter opinião. Faz parte.
Não se pode ignorar numa população de 212 milhões de pessoas, opiniões, pensamentos, questionamentos e estilo de cada um. A diversidade de opiniões simboliza a universalização do pensamento, matriz da democracia. É terrivelmente triste imaginar que a minoria golpista vença o debate de quebra do regime federalista.
Ulisses Guimarães escreveu em seu discurso sobre a Constituição promulgada em 1988 que o melhor para crises na democracia “é mais democracia”. Aos brasileiros falta lição de ética, de respeito às leis. A tese de levar vantagem em tudo destruiu o Rio de Janeiro. Essa regra maldita que contaminou Brasília precisa ser combatida. É uma praga!
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