Lista inclui 16 governadores; segundo delator, eles receberam dinheiro ilícito 'direta e indiretamente'. Buriti nega recebimento, e diz que empresa não obteve benefícios na atual gestão do DF.
O nome do governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, aparece em um dos documentos apresentados pelo ex-diretor da J&F Ricardo Saud no acordo de delação premiada. Na lista, constam 16 governadores eleitos e reeleitos em 2014, sem referências ao valor que cada um teria recebido. Durante a delação, Saud afirmou ao Ministério Público Federal que o grupo empresarial destinou "propina para 16 governadores eleitos".
"[...] Demos propina para 16 governadores eleitos, sendo 4 do PMDB, 4 do PSDB, 3 do PT, 2 do PSB, um do PP, um do PSD. Esse foi um estudo que eu fiz por conta minha, até perguntei aos meus advogados se eu podia fazer, eu acho que isso aqui no futuro vai servir. Eu trouxe aqui, ó, todas as pessoas que receberam propina nossa, direta ou indiretamente", diz Saud.
Em nota, o Palácio do Buriti afirma que "as contribuições da JBS ao PSB-DF e à campanha do governador Rodrigo Rollemberg estão registradas junto ao TSE e se deram de forma lícita e sem qualquer promessa de contrapartida".
Ainda segundo o texto enviado pela assessoria de Rollemberg, a JBS não obteve nenhum "benefício" do atual governo, e chegou a ter pedidos recusados (leia íntegra, e a defesa dos outros citados, ao fim desta reportagem).
Doações registradas
Na planilha de doadores de campanha de Rollemberg, disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aparecem 40 repasses da JBS à campanha do político, entre os dias 16 de julho e 13 de novembro de 2014. Os valores de cada transação variam de R$ 6,54 a R$ 150 mil. Ao todo, R$ 402.831,70 foram repassados, sendo que todo dinheiro foi intermediado pelo PSB regional.
Na planilha de doadores de campanha de Rollemberg, disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aparecem 40 repasses da JBS à campanha do político, entre os dias 16 de julho e 13 de novembro de 2014. Os valores de cada transação variam de R$ 6,54 a R$ 150 mil. Ao todo, R$ 402.831,70 foram repassados, sendo que todo dinheiro foi intermediado pelo PSB regional.
A planilha também inclui uma doação direta da JBS à campanha de Rollemberg, de R$ 450 mil, no dia 24 de outubro – dois dias antes da votação em segundo turno, quando o governador foi eleito. Ao todo, a empresa destinou R$ 852,8 mil à campanha.
Saud e o PSB
Na delação, Saud chega a afirmar que o PSB – partido de Rollemberg – concentrou grande interesse do grupo J&F na campanha de 2014 porque, à época, o candidato à presidência da República Eduardo Campos (PE) ia bem nas pesquisas. O mesmo acontecia com as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), de acordo com o delator.
Na delação, Saud chega a afirmar que o PSB – partido de Rollemberg – concentrou grande interesse do grupo J&F na campanha de 2014 porque, à época, o candidato à presidência da República Eduardo Campos (PE) ia bem nas pesquisas. O mesmo acontecia com as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), de acordo com o delator.
Mesmo após a morte de Eduardo Campos, em um acidente aéreo durante a campanha, Saud diz que as negociações continuaram. Na delação, ele aponta o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o prefeito de Recife, Geraldo Júlio, como os interlocutores do PSB nessa manutenção do acordo.
Saud também afirma que, entre os R$ 600 milhões injetados pelo grupo J&F em todas as campanhas de 2014 – desde os deputados estaduais, até a disputa ao Palácio do Planalto –, a maior parte correspondia a propina. "Desses 500 milhões, quase 600 milhões que nós estamos falando aqui, praticamente, se a gente tirar esses 10, 15 milhões aqui, o resto tudo é propina. Tudo tem 'arte', 'arte de ofício', tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa".
Ilegais e declarados
Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista detalhou aos investigadores como eram feitos os pagamentos a políticos. Segundo ele, muitas vezes, a propina era entregue "na forma de doação oficial", devidamente declarada. Outros repasses também eram feitos "por fora", como caixa 2 ou notas fiscais frias, além de dinheiro vivo.
Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista detalhou aos investigadores como eram feitos os pagamentos a políticos. Segundo ele, muitas vezes, a propina era entregue "na forma de doação oficial", devidamente declarada. Outros repasses também eram feitos "por fora", como caixa 2 ou notas fiscais frias, além de dinheiro vivo.
"Tem pagamento via oficial, caixa 1, via campanha política, tem via caixa 2, tem via dinheiro em espécie. Basicamente essa é a forma de pagar. Normalmente acontece o seguinte: se combina o ilícito, se combina o ato de corrupção com o político, com o dirigente do poder público, e daí pra frente se procede o pagamento. Os pagamentos são feitos das mais diversas maneiras. Seja nota fiscal fria, seja dinheiro, caixa 2, até mesmo doação política oficial", afirma o empresário.
Ele é questionado, então, sobre se os pagamentos a políticos realizados pela empresa eram propina. E responde: "Contrapartida. Isso. Propina disfarçada de doação política". Segundo Joesley, nos últimos anos foram pagos "uns R$ 400 milhões" em doação oficial, e "uns R$ 100 milhões" em nota fiscal fria, por exemplo.
Confira a íntegra do posicionamento do governo do DF:
"As contribuições da JBS ao PSB-DF e à campanha do governador Rodrigo Rollemberg estão registradas junto ao TSE e se deram de forma lícita e sem qualquer promessa de contrapartida.
Não houve qualquer ação do governo que tenha trazido benefícios ao grupo.
"As contribuições da JBS ao PSB-DF e à campanha do governador Rodrigo Rollemberg estão registradas junto ao TSE e se deram de forma lícita e sem qualquer promessa de contrapartida.
Não houve qualquer ação do governo que tenha trazido benefícios ao grupo.
Pelo contrário, houve um pedido da empresa para obter um regime especial tributário para comercialização de produtos de carne no Distrito Federal, sem a instalação de uma unidade fabril, o que foi recusado pelo Governo de Brasília.
A JBS teve sua inscrição fiscal suspensa no Distrito Federal por encerramento de atividades em 2015.
Atualmente o grupo fornece insumos para a merenda escolar por ter sido vencedor de uma licitação no governo anterior, cuja venda se dá a partir de outro estado."
Saiba o que os outros governadores e políticos citados falam sobre a delação de Ricardo Saud:
José Ivo Sartori (PMDB), governador do Rio Grande do Sul: afirmou ao G1, em nota, que as doações recebidas da JBS "foram realizadas dentro da legislação vigente, sendo efetivadas através de transferência eletrônica, saindo da conta da empresa diretamente para a conta da candidatura, bem como emitidos os respectivos recibos eleitorais".
Renan Calheiros Filho (PMDB), governador de Alagoas: não se pronunciou.
Marcelo Miranda (PMDB), governador de Tocantins: o G1 não conseguiu contato com a assessoria do governador. Em nota sobre a citação de Miranda por delatores da Odebrecht, o governo do estado disse que "todas as doações de campanha do governador foram feitas de forma legal, devidamente declaradas e as contas aprovadas".
Luiz Fernando Pezão (PMDB), governador do Rio de Janeiro: ao G1, afirmou que "todas as doações da campanha foram feitas de acordo com a Justiça Eleitoral".
Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco: diz "repudiar, veementemente, a exploração política do depoimento do delator Ricardo Saud, que já antecipo não corresponde à verdade". Afirma que não recebeu doação da JBS, tem vida dedicada ao serviço público, é homem de classe média e vive do salário.
Beto Richa (PSDB), governador do Paraná: segundo o comitê financeiro da campanha de Richa, as doações de R$ 1 milhão e R$ 1 mil feitas pelo grupo JBS "foram declaradas na prestação de contas entregue à Justiça Eleitoral e em conformidade com a legislação vigente à época das eleições de 2014".
Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo: em nota, diz que "não existe nenhuma acusação contra a campanha do governador Geraldo Alckmin na delação do executivo", e que as doações "foram realizadas com transparência e dentro da estrita legalidade, conforme registrado pelo TSE". Afirma, ainda, que "não cabe comparar esta doação legal com repasses mencionados em denúncias de irregularidades".
Simão Jatene (PSDB), governador do Pará: o político afirmou ao G1 que "o diretório nacional manda recurso ao diretório paraense" e, por isso, não é possível saber a origem do recurso. "Imagina se você sabe o dinheiro que passou na sua mão hoje, se algum desse dinheiro passou pela mão de alguém que não é sério. Como é que você vai imaginar esse tipo de coisa?", disse o governador.
Reinaldo Azambuja (PSDB), governador do Mato Grosso do Sul: em nota, afirmou que apenas um termo de acordo com o Grupo JBS foi assinado na gestão dele e que tudo está dentro das leis de incentivos fiscais. Em relação ao recebimento de R$ 10 milhões, o tucano disse que o dinheiro para a campanha foi repassado pela Direção Nacional do PSDB e declarado na prestação de contas.
Camilo Santana (PT), governador do Ceará: segundo o político, as doações que recebeu na campanha foram legais e declaradas. 'As informações que tenho são de que foram feitas de forma absolutamente corretas e dentro da lei. Tanto que todas as contas foram devidamente aprovadas pelo TRE', disse.
Fernando Pimentel (PT), governador de Minas Gerais: "A verdade é que a minha vida e de meus familiares foi - ilegalmente - devassada pela Polícia Federal. Todos os sigilos - bancário, fiscal e contábil - foram levantados e nenhum ilícito foi encontrado. Eu não tenho imóveis escondidos, não tenho conta no exterior, nem tenho dinheiro não declarado", afirmou o governador em nota.
Raimundo Colombo (PSD), governador de Santa Catarina: em nota, a assessoria do governador afirmou que ele 'contesta com veemência as declarações feitas pelo delator da JBS sobre doações relativas à campanha eleitoral de 2014'.
Tião Viana (PT), governador do Acre: o G1 tenta contato com a assessoria do político.
Suely Campos (PP), governadora de Roraima: o G1 tenta contato com a governadora.
Robinson Faria (PSD), governador do Rio Grande do Norte: em nota conjunta com o filho e deputado federal Fábio Faria (PSD), os políticos dizem que conheceram a JBS no período eleitoral e confirmam que receberam 'doações da empresa citada, somente durante o período de eleições, oficialmente, legalmente, devidamente registradas na Justiça Eleitoral e sem qualquer contrapartida nem ato de ofício'.
Geraldo Júlio (PSB), prefeito de Recife: o político diz repudiar "veementemente as acusações" e afirma que nunca tratou de recursos ilegais com essa empresa ou com qualquer outra. Ainda de acordo com a nota ao G1, "o próprio documento divulgado pela Justiça registra que as doações feitas à campanha do PSB não foram feitas por troca de favores". O prefeito do Recife alega que todas as doações recebidas pelo partido foram legais.
Fonte: G1 DF
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