Cápsulas de fosfoetanolamina produzidas desde os anos 90 no Instituto de Química de São Carlos (Foto: Cecília Bastos/USP Imagem)
72 pacientes foram tratados até hoje no estudo da fosfoetanolamina em SP. Destes, 59 já tiveram suas reavaliações, e 58 não apresentaram resposta considerada objetiva pelos médicos. Apenas um paciente do grupo de melanoma apresentou resposta ao tratamento.
O instituto do Câncer do Estado de São Paulo anunciou nesta sexta-feira (31) que decidiu suspender os testes clínicos com a fosfoetanolamina, composto polêmico que ficou conhecido como "pílula do câncer", devido à ausência de "benefício clínico significativo" nas pesquisas realizadas até o momento.
"Os resultados iniciais da pesquisa clínica não indicaram o benefício clínico esperado aos pacientes que fizeram uso da substância na dose do estudo", diz comunicado da Secretaria de estao da Saúde.
Ao todo, 72 pacientes, de 10 diferentes grupos de tumores, foram tratados até o momento nesse estudo da fosfoetanolamina. Destes, 59 tiveram suas reavaliações, e 58 não apresentaram resposta considerada objetiva pelos médicos. Apenas um paciente, que tem melanoma, apresentou uma resposta ao tratamento.
O grupo de câncer colorretal foi o primeiro a completar a inclusão de todos os pacientes previstos nesta fase, e foi encerrado, pois nenhum paciente apresentou resposta objetiva ao tratamento, segundo informa a Secretaria Estadual de Saúde paulista.
Resultados muito inferiores
"Como os resultados de reavaliação estão sendo muito inferiores ao desejável, em todos os grupos, a inclusão de novos pacientes está suspensa e o protocolo será cuidadosamente reavaliado antes de qualquer continuidade", diz a nota do governo.
O estudo teve início em julho de 2016 e, desde então, os pacientes incluídos estão em avaliação por uma equipe especializada com experiência em testes clínicos.
Na segunda fase prevista de testes, o plano era incluir 20 participantes em cada um dos 10 grupos com diferentes tipos de câncer, totalizando 210 pessoas em acompanhamento. O objetivo primário dessa etapa, segundo o Icesp, seria a observação de pelo menos dois pacientes com "resposta objetiva", ou seja, com diminuição do tumor em cada grupo.
O Icesp informa que nos últimos oito meses os pacientes pesquisados passaram por avaliações periódicas, com retornos entre 15 e 30 dias, para a realização de consultas médicas e exames, dentre eles a avaliação da doença por tomografia, o que permite aos médicos acompanhar de perto a evolução do câncer em relação ao uso da "pílula do câncer". Os pacientes envolvidos no projeto vão continuar em tratamento no Icesp normalmente, com acompanhamento da equipe de oncologia.
Como surgiu a pílula
A fosfoetanolamina sintética começou a ser estudada no Instituto de Química da USP em São Carlos, pelo pesquisador Gilberto Chierice, hoje aposentado. Apesar de não ter sido testada cientificamente em seres humanos, as cápsulas foram entregues de graça a pacientes com câncer por mais de 20 anos.
Por Carolina Dantas, G1
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