A jovem tem osteogênese imperfeita, doença genética mais conhecida como “ossos de vidro”, cujas principais características são fragilidade dos ossos e baixa estatura. Larisse fala em tom equilibrado e sereno, denotando simplicidade e até um pouco de timidez, mas demonstrando segurança de quem sabe aonde quer chegar. “A locomoção ainda é um desafio. Sair de casa é muito difícil, fico dependente dos outros. Mas dá para superar. Gosto bastante de estudar. Me identifico muito com as disciplinas de exatas, mas gosto de todas. Faço de tudo para não faltar às aulas”, conta, dizendo que sonha entrar na universidade para cursar Administração ou Nutrição. “Tenho colegas de sala que pretendem fazer faculdade de Educação Física, e eu já conversei com eles para, futuramente, montarmos juntos uma academia de ginástica. É só sairmos da escola e nos formarmos”, projeta.
Larisse vê como fundamental o apoio recebido na escola, tanto por parte dos professores, como dos demais estudantes. “Me sinto bem acolhida na escola. Os professores são muito bons, as pessoas são companheiras, a estrutura me atende em relação à locomoção, embora eu precise de auxílio para andar”, observa.
Desempenho
Por ter facilidade com o aprendizado de algumas disciplinas, Larisse se dispõe a acompanhar alguns colegas de sala, dando aulas de reforço. “Ajudar é uma questão de consciência. Se tem alguém precisando e eu posso auxiliar, é correto que eu faça isso”, considera.
A professora Valderlane de Azevedo, do Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais (NTPPS) da Escola Polivalente Modelo, acompanha a rotina de Larisse e de outros alunos com deficiência. Há cinco anos trabalhando na unidade de ensino, a educadora tem percebido o aumento gradativo na procura pela Educação Especial, motivado pelo desejo de inclusão na sociedade.
“Eles são esforçados, atenciosos, nota 10 em frequência. Têm sede de aprender, estão atentos a tudo e querem participar das atividades, por mais que tenham algumas limitações. A gente percebe que esse atendimento ajuda muito”, considera a professora, lembrando que a escola oferece aporte para o acompanhamento individualizado destes alunos, no contraturno, por meio do Núcleo de Atendimento Pedagógico Especializado (Nape).
Assistência
A Rede Estadual conta com a matrícula de 3.821 alunos com algum tipo de deficiência, como cegueira, baixa visão, surdez, deficiência auditiva, surdocegueira, deficiência física, deficiência intelectual, deficiência múltipla, autismo, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. O atendimento ocorre da Educação Infantil (comunidades indígenas) ao Ensino Médio, em escolas regulares e especializadas, como o Instituto dos Cegos e o Instituto Cearense de Educação de Surdos, dotados de profissionais capacitados e habilitados para ensinar aos alunos que têm estas deficiências específicas.
A Seduc disponibiliza também serviços de suporte à inclusão organizados em 188 Salas de Recurso Multifuncional (SRM), que são espaços físicos localizados nas escolas, providos de mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos e equipamentos específicos para o atendimento aos alunos, no contraturno da escola. O professor tem como função realizar esse atendimento de forma complementar ou suplementar à escolarização, considerando as habilidades e as necessidades específicas dos estudantes.
Existem, também, oito Núcleos de Atendimento Pedagógico Especializado (Nape), que são ambientes equipados com recursos materiais e equipe multidisciplinar composta de pedagogo, assistente social, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional, em funcionamento nas escolas estaduais. Um deles fica na Escola Polivalente Modelo.
Superação
O desejo de aprender mais, exercer a cidadania e ajudar a construir uma sociedade mais justa e plural faz Francisco Nilton Moura Filho, de 18 anos, vencer as limitações físicas e se deslocar 250 quilômetros, todas as semanas, para aprender novas habilidades. O jovem, que tem cegueira e paralisia cerebral, é assistido pelo Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creaece).
A cada sexta-feira, ele e a mãe acordam às 2h para pegar um ônibus, saindo do município de Bela Cruz, até Fortaleza. No Centro, Francisco recebe atendimento pela manhã e à tarde, tendo acompanhamento de fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicóloga, além de aulas de Música e Educação Física. “Quero ser advogado, médico e cantor, para montar uma empresa bem grande, oferecendo assistência e educação às pessoas que precisarem”, sonha o estudante.
Há cinco anos recebendo assistência no Creaece, Francisco está agora aprendendo a fazer leitura em Braille e reconhece que, mesmo exigindo esforço, o aprendizado tem sido divertido. “Ainda tenho um pouco de dificuldade para ler, por causa da limitação motora nos dedos, mas estou gostando muito de aprender”, ressalta.
A mãe de Francisco, Sônia Freitas, acompanha a rotina do filho e considera o Creaece “uma luz na vida das famílias que têm pessoas com deficiência”. “A equipe que trabalha aqui nos transmite força e positividade. São excelentes profissionais que se esforçam para nos trazer bem-estar. Meu filho já conseguiu obter grandes transformações desde que chegou aqui, tanto na fala, como na mobilidade e na coordenação motora. Não foi de um dia para o outro, mas é fruto de uma luta diária. Só a gente que é mãe pode dar esse testemunho. Tenho muito a agradecer”, enfatiza Sônia.
Atendimento
O Creaece funciona nos três turnos, de segunda a sexta-feira, e atende a cerca de quatro mil professores e outros profissionais, sendo 1.400 só na parte de formação. Atualmente, existem 76 turmas de Língua Brasileira de Sinais (Libras), três turmas de deficiência visual, três de Atendimento Educacional Especializado (AEE), duas de deficiência intelectual, e uma turma de altas habilidades.
O público prioritário da instituição, como diz o coordenador de Formação do Creaece, Aloísio de Araújo, é o professor da escola pública. “É a ponta do processo educacional, que está envolvido diretamente com a criança ou com o adolescente com deficiência. Propiciamos aos professores materiais pedagógicos e recursos didáticos para que a assistência aos alunos ocorra da melhor forma, de modo que tenham condições de se tornar cidadãos”, explica, lembrando que os educadores vêm de mais de 40 municípios cearenses para receber a formação.
Criado em 2010, o Creaece constitui-se em uma unidade de serviços de apoio pedagógico e suplementação didática ao sistema de ensino, garantindo acesso a recursos específicos, como livros em Braille, livros falados, textos ampliados e sorobã, necessários ao atendimento educacional.
Produção
A instituição conta com um setor específico para a produção de material didático na área de deficiência visual, atendendo à demanda de todo o Estado. O ambiente conta com três impressoras em Braille de grande porte, importadas da Suécia, únicas em todo o Brasil, que têm capacidade para imprimir em larga escala. A equipe é composta por transcritores, que recebem os livros e os adaptam para o Braille, por meio de um programa de computador; além de revisores, que são pessoas cegas, responsáveis pela revisão textual; e dos operadores de impressoras.
O Centro atende, também, a 486 alunos com deficiência, regularmente matriculados nas escolas públicas. Reúne, ainda, os serviços realizados pelo Centro de apoio aos Cegos (CAP), pelo Centro de Atendimento aos Surdos (CAS), e pelo Núcleo de Altas Habilidades e Superdotação. Implantados pela Seduc, têm o objetivo de apoiar a escolarização e o atendimento às pessoas com deficiência.
*Governo do Ceará.
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