A desigualdade educacional no Brasil se agravou com a pandemia do Covid-19, atingindo principalmente a população negra, pobre e, principalmente, das regiões Norte e Nordeste. O abandono escolar, influenciado pela implementação do ensino remoto e das diferenças de materiais ofertados para o ensino público - e até privado - foi uma das consequências dessa disparidade que se faz presente na educação brasileira. Essa realidade e os desafios para seu enfrentamento serão discutidos no “Grandes Debates – Parlamento Protagonista” deste mês de junho. As convidadas são a socióloga, doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Neca Setubal, e a doutora em Filosofia e História da Educação pela PUC de São Paulo, Sofia Lerche, com mediação do jornalista Ruy Lima. O debate será exibido em 21 de junho, às 21h, pela TV Assembleia, Rádio Assembleia e Redes Sociais da Casa.
Antes da pandemia, os dados sobre a desigualdade educacional e o abandono escolar já eram preocupantes. É o que indica um mapeamento realizado em 2019 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Instituto Claro, sobre reprovação, abandono escolar e distorção em relação à idade-série. Focando na questão do abandono escolar, o levantamento aponta que 623.187 estudantes das redes municipal e estadual do país abandonaram a escola. Deste total, 329.058 se declararam pretos, pardos e indígenas. Os maiores índices de abandono foram registrados nas regiões Norte e Nordeste.
A pandemia deu margem para o sistema educacional de o país aumentar as disparidades raciais, sociais e locais, Um dos problemas estruturais dessa situação é a falta de acesso a Internet para assistir as aulas online, que gerou um dos maiores problemas, o abandono escolar. A mudança para o ensino remoto era a única opção para os alunos continuarem estudando, seguros do vírus. Porém, um em cada quatro brasileiros não têm acesso à internet, representando cerca de 46 milhões de pessoas, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC), de 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Sofia Lerche, políticas públicas educacionais de enfrentamento das desigualdades na oferta de serviços à população em idade escolar são as únicas alternativas para mitigar os efeitos da tragédia coletiva que se abateu sobre o mundo e o País. “Nesse processo, é essencial a cooperação e a solidariedade entre todos os envolvidos para não negar a crianças e jovens as perspectivas de futuro”, comenta. Para Neca Setubal, o Brasil tem um “trágico” retrocesso educacional na pandemia. “O número de matrículas em 2021 é significativamente menor do que os dos anos anteriores da pandemia. O número de jovens que não trabalham e nem estudam é acima de 20%. É dramática essa situação”, afirmou. A especialista critica que não houve uma política nacional coordenada para fazer frente a esses problemas.
As convidadas do debate para conversar sobre o tema são:
Neca Setubal - Maria Alice "Neca" Setubal é socióloga, doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). É autora de vários livros, artigos e resenhas. Foi Coordenadora de Educação para América Latina e Caribe pelo Unicef. Atualmente é presidente do Conselho de Administração Fundação Tide Setubal, comentarista na CNN e articulista da Folha de São Paulo.
Sofia Lerche - é doutora em Filosofia e História da Educação pela PUC de São Paulo, com pós-doutorado pela Universidad Nacional de Educacion a Distancia (UNED) da Espanha. É professora titular do Programa de pós-graduação em Educação (PPGE) da UECE, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e de Políticas Educacionais (DPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e líder do Grupo de Pesquisa Politica Educacional, Gestão e Aprendizagem (GPPEGA) do CNPq.
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