29 novembro 2018

Ceará enfrenta dificuldade no uso de águas subterrâneas



As propriedades geomorfológicas do solo impedem a maior exploração dos aquíferos do EstadoFOTO: KID JÚNIOR


Alternativas aos açudes para o abastecimento humano, poucos aquíferos existentes no subsolo do Estado demandam maior atenção por fornecerem água salina

Sofrendo com a escassez de chuvas típica do Semiárido, que traz incerteza quanto à recarga dos reservatórios, o Ceará enfrenta outra dificuldade no que deveria ser uma alternativa para o abastecimento humano, localizada logo abaixo dos nossos pés: as rochas subterrâneas. De acordo com Marcelo Medeiros, superintendente de Gestão da Rede Hidrometeorológica da Agência Nacional da Água (Ana), as propriedades geomorfológicas dessas formações impedem a maior exploração dos aquíferos do Estado.

"Vocês têm pouca água subterrânea porque a rocha daqui, que a gente chama de cristalina, é muito dura. Ela só acumula água quando há uma fratura. E, como a água fica parada, ela absorve os sais da rocha e fica salobra ou salina, ou seja, não tem uso imediato, precisa passar por tratamento", descreve o especialista.

Esperança mesmo, só com boas chuvas em 2019. Um dos fatores que pode influenciá-las é o El Niño, fenômeno climático de aquecimento das águas do Oceano Pacífico capaz de reduzir a presença de chuvas no Ceará. "Ainda não se tem muita certeza, mas há um indicativo de que não haja um El Niño forte, intenso. Os modelos indicam um fenômeno de moderado a fraco", aponta Meiry Sakamoto, meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

Temperaturas

Segundo ela, as temperaturas do Oceano Atlântico também devem ser observadas. Nos últimos dias, elas favoreceram a aproximação da Zona de Convergência Intertropical (Zcit) e a ocorrência de chuvas em regiões do Cariri e do Sertão Central. Esse comportamento é típico da pré-estação chuvosa, que deve iniciar em dezembro. "Vamos aguardar o início de janeiro para divulgar um prognóstico para a quadra chuvosa", explica Meiry Sakamoto.

Marcelo Medeiros também destaca a necessidade de se manter dados atualizados sobre a água para garantir melhor gerenciamento. O superintendente avalia que o Ceará tem forte dependência do modelo baseado em açudes, principalmente na Capital, que tem "muita gente concentrada numa porção muito pequena do território onde você tem que ofertar uma quantidade muito grande de água". Por enquanto, afirma, não há soluções alternativas. "As soluções que temos até hoje, na mão, são mais voltadas para populações menores, principalmente no meio rural, onde é possível utilizar a água da chuva e reduzir a água na agricultura familiar", diz.


Encontro

Para discutir novas tecnologias, inclusive o sensoriamento remoto, pesquisadores brasileiros e franceses de diversas instituições se reuniram, ontem, no segundo encontro da Rede Franco-Brasileira pelo Desenvolvimento Sustentável no Semiárido do Nordeste (ReFBN), em Fortaleza. O objetivo foi fortalecer as parcerias e trabalhar em pesquisas conjuntas de cooperação para que metodologias inovadoras possam ser adequadas ao Semiárido nordestino.

Uma das sugestões do pesquisador Julien Burte, do Centro Francês de Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento Internacional (Cirad), é descentralizar o modelo de gestão dos recursos hídricos. "O Estado não tem gente suficiente pra isso. É o nível municipal que, a nosso ver, precisa estruturar esses espaços de discussão, planejamento e gestão dos recursos disponíveis, junto a agricultores, ONGs e a academia", recomenda.


Fonte: Diário do Nordeste

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