30 março 2020

Médico, professor e pesquisador da UFC defende uso da hidroxicloraquina contra coronavírus

O pesquisador Odorico Moraes lembra que dos 1.003 pacientes tratados até hoje com a Hidroxicloroquina no Hospital de Doenças Infecciosas de Marselha, apenas 1 foi a óbito.

Professor Titular da Farmacologia Clínica da Faculdade de Medicina da UFC, o médico Odorico Moraes não hesitou em seguir no Ceará a linha do francês Didier Raoult, que defende o uso da Hidroxicloroquina no esquema terapêutico para combater a COVID-19. Não, sem antes “devorar tudo” o que tinha em sua biblioteca sobre epidemias, pandemias e doenças causadas por vírus.

Odorico Moraes, que também é diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC, lembra que o quinino foi o principal uso popular para combater a pandemia viral que matou milhões no mundo a partir de 1917. Era fácil de encontrar, barato e, mais tarde, derivou na cloraquina, que derivou na hidroxicloraquina. Bingo!

“Ao constatar este fato histórico passei a pesquisar se havia algum trabalho que mostrasse efeito viricida in vitro e/ou in vivo dos atuais derivados do quinina, cloroquina e hidroxicloroquina. Para minha surpresa me deparei com diversos trabalhos mostrando os efeitos antivirais da hidroxicloroquina e cloroquina contra o corona vírus in vitro e dois deles mostrando a efetividade contra a COVID-19, um francês e outro chinês”, escreveu Odorico em seu Facebook.

A partir dessa conclusão e dos testes realizados em outros centros, o pesquisador passou a sugerir um esquema terapêutico baseado na cloraquina e na hidroxicloraquina. “Solicitei aos colegas que o usassem em um amigo internado em estado crítico. Desde então, embora ainda em estado grave, vem melhorando progressivamente. A minha sugestão foi prontamente aceita, principalmente porque a hidroxicloroquina é um fármaco relativamente seguro. Foi um pouco criticado no início, porque a Hidroxicloroquina não era indicada para infecções virais, mas rapidamente, todos concordaram que, contra fatos não há argumentos”, escreveu o professor.

Veja a entrevista do Focus com o professor e pesquisador médico Odorico Moraes.

Focus – O tratamento com Hidroxicloroquina em conjunto com a azitromicina é uma polêmica. Sabe-se que no Ceará o tratamento vem sendo usado. Em que nível?
Odorico Moraes – Não é mais polêmico. Hoje, esse tratamento vem sendo adotado no mundo inteiro. Poucos países ainda não adotaram este tipo de tratamento. Alguns países, como a Índia, já estão adotando a hidroxicloroquina profilaticamente nos profissionais de saúde que estão na linha de frente do tratamento da doença. Então, hoje, talvez seja a única opção para o tratamento da Covid-19. No Ceará, não tenho uma avaliação completa de quais hospitais estão adotando esta terapêutica. Sei que o hospital Monte Klinicum, o São José e o São Carlos já adotando.

Focus – Em quantos pacientes?
Odorico Moraes – Não sei quantos pacientes tem hoje efetivamente com a Covid-19. No meu ponto de vista, está havendo uma subnotificação. Muitos pacientes iniciam tratamentos tendo apenas diagnóstico clínico e radiológico, sem o diagnóstico laboratorial genético. Porém, atenção: não se pode sobrecarregar o metabolismo corporal, o metabolismo hepático e a excreção renal com uma série de medicamentos se você não tem nenhuma sintomatologia. O ideal é que não se use esse esquema terapêutico profilaticamente, a não ser os que estão expostos na linha de frente. Hoje, a principal forma de prevenir é o isolamento social, o uso dos EPIs e a higienização. Não recomendo que se faça o uso profilático desses medicamentos.

Focus – Isso é um problema?
Odorico Moraes – Do ponto de vista do tratamento, não vai fazer muita diferença. Do ponto de vista epidemiológico, sim. Vai acabar tendo mortes que não há confirmação. Pode ser H1N1. Pode ser coronavírus. Outro problema é que você não pode computar essas pessoas como sendo portadora do vírus. Eu diria que todas essas pessoas que estão hospitalizadas hoje no São José, Monte Klinicum e São Carlos estão fazendo o tratamento [com a hidroxicloroquina]. Inicialmente, era apenas em pessoas que estavam mais graves, entubadas. Hoje, já estão fazendo o tratamento nas pessoas com evolução leve, moderada e grave.

Focus – Seria válido adotar o procedimento da Índia aqui na tentativa de preservar os profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à doença?
Odorico Moraes – Andei conversando com alguns colegas. Andei sugerindo isso para alguns colegas que estão na linha de frente, que não tenham comorbidades. Por exemplo, o colega que tenha uma insuficiência hepática, renal e outras é contraindicado usar. Nesse tipo de terapêutica, tem sempre que avaliar o risco e o benefício. Há o risco de prevenir uma doença e exacerbando outra.

Focus – Qual tem sido a resposta deste esquema terapêutico?
Odorico Moraes – Sou sou um profissional da área de pesquisa clínica e medicamento. Não sou um clínico que está na linha de frente. Não fui o primeiro a implantar. Eu apenas sugeri que este tipo de terapêutica, que havia alcançado uma resposta razoável em outros países, poderia ser uma opção também para os nossos pacientes. Foi adotado em primeiro lugar em um paciente que está internado no São Carlos. Embora ainda continue em estado muito grave, está paulatinamente e progressivamente melhorando o seu estado depois que iniciou o tratamento. Já faz oito dias.

Focus – Temos casos de alta com esse tratamento?
Odorico Moraes – Não tenho conhecimento ainda. É muito cedo em função da evolução da doença. As pessoas que começaram a usar estão começando agora oito dias. Temos que esperar um pouco. Em torno de 10 a 15 dias. A cura, quando prematura, se faz entre oito e dez dias. Como a carga viral não está sendo avaliada, não se sabe nem se uma pessoa está curada ou se ainda está transmitindo o vírus.


Focus – O que mais o senhor recomenda?
Odorico Moraes – Não é esse o único esquema terapêutico que está sendo testado no mundo. Diversos antirretrovirais também estão em testes. Estou sugerindo para os colegas que adicionem ao esquema terapêutico [da hidroxicloroquina + azitromicina] também o zinco. Fiz um levantamento bibliográfico e existem vários trabalhos mostrando a eficácia do zinco como viricida. O zinco é utilizado hoje em muitos suplementos vitamínicos e acho que pode trazer uma melhora para o paciente.

*Focus.jor

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