21 março 2020

Com coronavírus, bancos já revisam previsão e veem recessão no Brasil em 2020

Metas fiscais terão sido descumpridas para fazer frente aos gastos para conter a epidemia, diz economista Foto: Arquivo
Metas fiscais terão sido descumpridas para fazer frente aos gastos para conter a epidemia, diz economista Foto: Arquivo


SÃO PAULO - Bancos e consultorias já preveem um resultado muito fraco da economia brasileira este ano, com chance, inclusive, de uma nova recessão por causa da pandemia de coronavírus.

A decisão do governo Jair Bolsonaro de enviar ao Congresso um decreto de calamidade pública no Brasil até 31 de dezembro soou como um alívio para os agentes do mercado financeiro. Aprovado na Câmara na quarta-feira, o projeto deve ser votado pelo Senado na próxima semana, de forma remota.

O motivo: a medida pode abrir espaço para mais gastos públicos num horizonte de contração generalizada da atividade econômica nos próximos meses, o que resultará em taxas fracas de avanço do Produto Interno Bruto (PIB), o conjunto de riquezas produzidas no país.
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 Foto: Arte/ O Globo

O economista Sergio Vale, da consultoria MB Associados, diminuiu de 1% para zero sua estimativa de desempenho do PIB em 2020. Na conta de Vale está um ritmo em queda livre da economia brasileira até junho, quando estados e municípios ainda deverão estar com restrições ao movimento das pessoas para conter o avanço do vírus.

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Componente negativo

Os efeitos danosos de medidas como as que vêm sendo tomadas agora deve fragilizar a atividade econômica até o fim do ano. Por isso, a calamidade pública pode ter o efeito de injetar dinheiro novo — o público, no caso — para reanimar o ambiente de negócios.


Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, pondera que os gastos públicos liberados pelo reconhecimento da calamidade pública no Brasil são uma boa medida, mas trazem um componente negativo que é admitir que o alastramento da doença é sério e o impacto sobre a economia será mais longo e mais severo do que se imaginava.

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— Por enquanto, o lado pessimista das notícias está se sobrepondo ao positivo, com vantagem — diz Bevilacqua, que pondera que as medidas de estímulo ainda precisam ser testadas.

Para o economista Bruno Lavieri, da consultoria 4E, passada a crise sanitária, o buraco fiscal será mais profundo e o ajuste necessário será mais custoso, o que deve reforçar a percepção ruim de investidores sobre o futuro da economia do país. A projeção da 4E para o PIB passou de 1,8% para zero.

— As metas fiscais terão sido descumpridas para fazer frente aos gastos para conter a epidemia — diz.

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Thiago Salomão, da Rico Investimentos, projeta que as mortes por coronavírus e o recuo na postura de Bolsonaro ao reconhecer a gravidade da crise sanitária não são boas notícias para o mercado financeiro:

— O mercado já percebeu que o país não tem muitas alternativas de onde tirar dinheiro. Isso aumenta a preocupação pelo lado fiscal. A expectativa é que as coisas ainda devem piorar muito antes de melhorar.

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— As medidas do Ministério da Economia estão na direção correta, mas se essa recuperação falhar ou for muito medíocre, o Brasil pode ter retração do PIB. E, aí, começam a pesar fatores domésticos, como o ambiente político que está longe do ideal — diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, que revisou a projeção do PIB, de 1,8% para 0,8%, mas não descarta um resultado pior, a depender da resposta do governo à pandemia.

*O Globo

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